O meu nome é Maria Grácia Cordeiro da Costa, conforme consta no meu cartão de cidadão — e sempre foi assim. Nasci em França, e o meu nascimento foi bastante atribulado. A minha mãe resolveu esperar porque não queria incomodar a patroa, e a situação complicou-se tanto que uma colega espanhola fez uma promessa à Senhora das Grácias. Esta é a versão romântica, porque também ouvi dizer que a senhora da conservatória se enganou. Acho que nunca vou saber ao certo.Na prática, a minha madrinha queria que me chamasse Laurinda ou Auzenda, como ela. Há males que vêm por bem. Em casa, chamavam-me Graça, mas sempre com a minha mãe a dizer: “Olha que o teu nome é Grácia”, enquanto na escola era BARROS Maria, porque a lógica da construção dos nomes é diferente. Fiquei com o “Barros” da minha avó Rosa, e “Maria” porque, para os franceses, era mais fácil — até porque o meu nome afrancesado era Grace, que foneticamente remetia para algo gordurento. E já me bastava ser filha de emigrantes!
Quando regressei a Portugal, no 8.º ano, entrei numa turma só de raparigas betas e pseudo-betas (valeram-me a meia dúzia de não-betas da turma, uma delas a minha boa amiga Gina). Com o meu sotaque de “avec”, um vocabulário muito restrito e todo um formalismo que não me fazia sentido, os stores diziam na chamada: “Gracia”, “Garcia” ou “Engrácia”. Ficou o “Graça” — mais discreto para quem não queria fazer ondas.
Não fiquem com a ideia errada: se a minha infância foi boa, a minha adolescência foi espetacular. Só quando fui estudar Design, no Porto, adotei o nome Grácia Cordeiro, e foi esse que usei sempre que fazia trabalhos mais “artísticos”. Mas, quando entrei em Engenharia Cerâmica e segui uma via mais académica, passei a usar Grácia Costa ou M.G.C. Costa. Vidas paralelas, mas separadas — porque parecia que não era possível gostar de artes e de ciência ao mesmo tempo.
Levei com colegas que achavam que eu era uma ave rara, e com uma vereadora da cultura (não de Viana) que, ao saber que estudava Engenharia Cerâmica, me disse: “Ainda inventam uma Engenharia do Iogurte”. No entanto, sempre achei que sou uma melhor professora e investigadora graças à minha sensibilidade e criatividade. E também sou melhor nas minhas artes pelo engenho e pela capacidade de antecipar problemas.
O que gosto mesmo é de desafios: quanto mais simples a solução, mais realizada me sinto. Por isso, nesta nova fase da minha vida, escolhi ser só Grácia. Mas pergunto-me: se fosse Laurinda Cordeiro da Costa, será que a minha vida teria sido diferente?
Nota: Com a minha participação no concurso Coração de Viana, promovido pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, resultou que um painel da minha autoria, “O Legado”, fosse colocado no Museu de Artes Decorativas. Vi-me na necessidade de arranjar uma forma de associar o meu nome, Maria Grácia Cordeiro da Costa, ao graciaceramics.com e @gracia.ceramics. Espero que o algoritmo do Google tenha percebido!